Abre-te! Efata!
Ele fez bem todas as coisas
O profeta Isaias, diante do sofrimento e
desalento do povo, anuncia que haverá uma grande transformação nas
pessoas e na própria natureza. A redenção é um projeto total do universo
e da pessoa. O gesto e as palavras de Jesus significam a realização
dessa profecia. A condição de surdo-mudo é uma situação muito difícil
para a pessoa na qual lhe dificulta muito a comunicação. Curiosamente
Jesus faz uma cena diferente para esse milagre. Leva o homem para fora
do movimento, toca seus ouvidos e sua língua e, põe sua saliva. Não foi
um ato estranho para o tempo, mas a comunicação da vida da que há na
palavra. Comunica-se o que tem de bom dentro de si. Desperta para a
comunicação. Relacionando com o ritual do batismo se diz tocando os
ouvidos e a boca da criança: “O Senhor que fez os surdos ouvirem e os
mudos falarem, te conceda ouvir a sua palavra e professar a fé para
louvor e glória de Deus Pai”. O gesto de Jesus reintegra o homem na
sociedade também na comunidade de culto. O milagre tem uma força
catequética. O profeta anima o povo sofrido a buscar o Senhor porque Ele
vai fazer uma mudança total. Por isso o povo vê como Jesus faz bem
todas as coisas. Rezando o salmo, reconhecemos a fidelidade de Deus que
se manifesta em suas muitas ações de socorro ao povo necessitado. Essa
palavra se realiza em nós quando repetimos as ações libertadoras e
salvadoras de Deus. É uma nova criação.
Os pobres ricos na fé
Quando se toca no tema sobre os “pobres”,
logo se pensa em questões sócio-político-partidárias. O modo de
compreender das Escrituras é diferente. Aquela frase de Jesus “Pobres
sempre tereis entre vós” (Jo 12,8) é provocadora. A preocupação de Judas
não eram os pobres, mas o que cairia na bolsa comum. Jesus parece
indicar que se deve sempre ter os olhos voltados para os necessitados,
que sempre existirão, mesmo num mundo muito rico. Por que o rico tem
facilidade em se afastar de Deus e da religião? Porque é questionado e
estimulado a partilhar. Os pobres são preferidos, pois têm sua última
esperança em Deus. Ainda mais que Deus os assume para seus cuidados. São
mais abertos à fé. Como conhecem as coisas de Deus, podem ser juízes,
como nos diz Tiago (Tg 2,5): “Deus escolheu os pobres deste mundo para
serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam”.
Julgar é mostrar a dependência de Deus. O problema não é ser rico. É
discriminar o pobre. É bonito ver na Igreja a preocupação com os pobres,
com a partilha, a solução dos problemas onde os pobres são os que
pagam. Tiago é pratico.
Bendize, minha alma, ao Senhor!
Diante do milagre o povo se maravilhou. E
com o salmo bendizemos a Deus. O culto que celebramos ao Deus bondoso
deve ser também um reconhecimento de suas maravilhas. Participamos
dessas maravilhas quando damos esperança aos necessitados, como o fez
Isaias. A ação libertadora de Deus no mundo não se faz com milagres
estupendos, mas com o serviço fraterno, a vida doada em favor dos que
sofrem, como também o cuidado com a terra (brotarão águas no deserto e
jorrarão torrentes no ermo. A terra árida se transformará em lago, e a
região sedenta, em fontes d’água” (Is 35,7,6-7ª). O cuidado com o ser
humano e a terra são condições necessárias para realizar o milagre de
curar surdos mudos e cegos. A Eucaristia só tem sentido se ela retorna a
sua fonte humana que é o homem e a mulher que cuidam do paraíso
terrestre (Gn 2,18).
Leituras: Isaias 35,4-7; Salmo 145;Tiago 2,1-5;Marcos 7,31-37
Ficha: nº 1786 - Homilia do 23º Domingo Comum (09.09.18)
1. A cura do surdo-mudo é um milagre que abre à comunicação.
2. Os pobres são preferidos, pois têm sua última esperança em Deus.
3. O cuidado com o ser humano e a terra são condições para realizar o milagre de curar surdos, mudos e cegos
Pobre dá dor de cabeça
Parece que deste o tempo de Jesus os pobres são uma
questão que sempre chama a atenção, pois sempre existem. Tem um
propósito muito grande de nos questionar em nossa dimensão de caridade
cristã. É fácil fugir do problema, lavar as mãos e dizer que não tem
solução. Jesus, dizendo que sempre os teríamos, está a recordar que a
missão do amor não termina. É o amor que sempre vamos ter em nós,
crescendo.
A dor de cabeça que o pobre nos faz sofrer é o
questionamento se estamos ricos demais a ponto de não precisar de Deus e
prepotentes o suficiente para pensarmos que somos donos da Igreja, a
ponto de S. Tiago dar uma bela aula de civilidade cristã: dar honra
devida aos mais humildes.
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