Todas as quintas-feiras, depois da
oitava de Pentecostes, a Igreja celebra a festa de Corpus Christi, mas
nem sempre foi assim. Vejamos, então, como essa festa tomou a proporção
que ela tem hoje.
História
Uma primeira coisa a saber é que não
existe registo do culto ao Santíssimo Sacramento fora da Missa no
primeiro milênio. Nesse período, a Eucaristia ministrada fora da Missa
era somente para os doentes.
A partir do segundo milênio, no
entanto, por meio de um movimento eucarístico, cujo centro foi a Abadia
de Cornillon, fundada em 1124, pelo Bispo Albero em Liége, na Bélgica,
podemos constatar costumes eucarísticos: exposição e bênção do
Santíssimo Sacramento, o uso dos sinos durante sua elevação na Missa e,
consequentemente, a festa do Corpus Christi.
A Solenidade em honra ao Corpo do
Senhor – “Corpus Chisti” –, que hoje celebramos na quinta-feira após a
oitava de Pentecostes, mais precisamente depois da festa da Santíssima
Trindade, é oficializada somente em 1264 pelo Papa Urbano IV.
Como bem sabemos, Deus costuma se
revelar aos humildes e pequenos, e Ele se utilizou de uma simples jovem
para lhe revelar a festa de Corpus Christi. Segundo os registros da
Igreja, Santa Juliana de Cornillon, em 1258, numa revelação particular,
teria recebido de Jesus o pedido para que fosse introduzida, no
Calendário Litúrgico da Igreja, a Festa de Corpus Domini.
Santa Juliana nasceu, em 1191, nos
arredores de Liège, na Bélgica. Essa localidade é importante, e, naquele
tempo, era conhecida como “cenáculo eucarístico”. Nessa cidade, havia
grupos femininos generosamente dedicados ao culto eucarístico e à
comunhão fervorosa.
Tendo ficado órfã aos cinco anos de
idade, Juliana, com a sua irmã Inês, foram confiadas aos cuidados das
monjas agostinianas do convento-leprosário de Mont Cornillon. Mais
tarde, ela também uma monja agostiniana, era dotada de um profundo
sentido da presença de Cristo, que experimentava vivendo, de modo
particular, o Sacramento da Eucaristia.
Com a idade de 16 anos, teve a
primeira visão. Via a lua no seu mais completo esplendor, com uma faixa
escura que a atravessava diametralmente. Compreendeu que a lua
simbolizava a vida da Igreja na Terra; a linha opaca representava a
ausência de uma festa litúrgica, em que os fiéis pudessem adorar a
Eucaristia para aumentar a fé, prosperar na prática das virtudes e
reparar as ofensas ao Santíssimo Sacramento.
Durante cerca de 20 anos, Juliana,
que entretanto se tinha tornado priora do convento, conservou no segredo
essa revelação. Depois, confiou o segredo a outras duas fervorosas
adoradoras da Eucaristia: Eva e Isabel. Juliana comunicou essa imagem
também a Dom Roberto de Thorete, bispo de Liége. Mais tarde, a Jacques
Pantaleón, que, no futuro, se tornou o Papa Urbano IV. Quiseram envolver
também um sacerdote muito estimado, João de Lausanne, pedindo-lhe que
interpelasse teólogos e eclesiásticos sobre aquilo que elas estimavam.
Foi precisamente o Bispo de Liége,
Dom Roberto de Thourotte, que, após hesitações iniciais, aceitou a
proposta de Juliana e das suas companheiras, e instituiu, pela primeira
vez, a solenidade do Corpus Christi na sua diocese, precisamente na
paróquia de Sainte Martin. Mais tarde, também outros bispos o imitaram,
estabelecendo a mesma festa nos territórios confiados aos seus cuidados
pastorais. Depois, tornou-se festa nacional da Bélgica.
A festa ficou conhecida
Dessa forma, a festa foi crescendo
cada vez mais, e outros bispos faziam a mesma coisa em sua diocese.
Tomou tal proporção, que veio a tornar-se não só uma festa do território
da Bélgica, mas sim de todo o mundo. Sendo que, a festa mundial de
Corpus Christi foi decretada oficialmente somente, em 1264, seis anos
após a morte de irmã Juliana, em 1258, com 66 anos.
Na cela onde jazia, foi exposto o
Santíssimo Sacramento e, segundo as palavras do seu biógrafo, Juliana
faleceu contemplando, com um ímpeto de amor, a Jesus Eucaristia, por ela
sempre amado, honrado e adorado.
Santa Juliana de Mont Cornillon foi
canonizada, em 1599, pelo Papa Clemente VIII. Como vimos, ela morreu
sem ver a procissão de forma mundial.
Depois da morte do Papa Alexandre IV,
foi eleito o novo Papa, o cardeal Jacques Panteleón. Naquela época, a
corte papal era em Orvieto, um pouco ao norte de Roma. Muito perto dessa
localidade fica a cidade de Bolsena, onde, em 1264, aconteceu o famoso
Milagre de Bolsena.
Em que consiste esse milagre? Um
padre da Boemia, Alemanha, que tinha dúvidas sobre a verdade da
transubstanciação, presenciou um milagre. Durante uma viagem que fazia
da cidade de Praga a Roma, ao celebrar a Santa Missa na tumba de Santa
Cristina, na cidade de Bolsena, Itália, no momento da consagração, viu
escorrer sangue da Hóstia Consagrada, banhando o corporal, os linhos
litúrgicos e também a pedra do altar, que ficaram banhados de sangue.
O sacerdote, impressionado com o que
viu, correu até a cidade de Orvieto, onde morava o Papa Urbano IV, que
mandou a Bolsena o Bispo Giacomo, para ter a certeza do ocorrido e levar
até ele o linho ensanguentado. A venerada relíquia foi levada em
procissão a Orvieto em 19 junho de 1264. O Pontífice foi ao encontro do
Bispo até a ponte do Rio Claro, hoje atual Ponte do Sol. O Papa pegou as
relíquias e mostrou à população da cidade.
O Santo Padre, movido pelo pelas
visões de Santa Juliana, pelo prodígio e também a petição de vários
bispos, fez com que a festa do Corpus Christi se estendesse por toda a
Igreja por meio da bula Transiturus de hoc mundo, em 11 de agosto de 1264. Esses fatos foram marcantes para se estabelecer a festa de Corpus Christi.
A morte do Papa Urbano IV, em 2 de
outubro de 1264, um pouco depois da publicação do decreto, prejudicou a
difusão da festa. Mas o Papa Clemente V tomou o assunto em suas mãos e,
no concílio geral de Viena, em 1311, ordenou mais uma vez a adoção desta
festa. Em 1317, foi promulgada uma recompilação das leis por João XXII e
assim a festa foi estendida a toda a Igreja.
Foi assim que a festa de Corpus
Chisti aconteceu, tendo como testemunho estes dois fatos: as visões de
Santa Juliana e o milagre eucarístico de Bolsena.
Elenildo Pereira
Candidato às Ordens Sacras na Comunidade Canção Nova. Licenciado em Filosofia pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP). Bacharelando em Teologia pela Faculdade Dehoniana, Taubaté (SP) e pós-graduando em Bioética pela Faculdade Canção Nova. Atua no Departamento de TV da Canção Nova, no Santuário Pai das Misericórdias e Confessionários.
Candidato às Ordens Sacras na Comunidade Canção Nova. Licenciado em Filosofia pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP). Bacharelando em Teologia pela Faculdade Dehoniana, Taubaté (SP) e pós-graduando em Bioética pela Faculdade Canção Nova. Atua no Departamento de TV da Canção Nova, no Santuário Pai das Misericórdias e Confessionários.
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