Centenário da Arquidiocese de Maceió

segunda-feira, 27 de maio de 2019

Um pouco da nossa história - Casa do Pobre de Maceió


Inaugurada no dia 31 de janeiro de 1932, a Colônia de Mendigos de Maceió nasceu por inspiração da Arquidiocese e sob a proteção de Santo Antônio, quando o arcebispo era Dom Santino Maria Coutinho. No seu primeiro dia de funcionamento, 1º de fevereiro, mantinha 180 pessoas com duas refeições diárias e tinha em caixa a quantia de 4:512$500, fruto das doações durante os festejos da inauguração.
Situada na Rua Santo Antônio, nº 1.083, no início do Vergel do Lago, a Colônia ocupou um terreno municipal, o Sítio Vergel do Lago, que estava sob a posse do empresário carioca Gustavo Schmidt Junior, cedida para a construção do Matadouro Modelo. Em julho de 1931 ele abriu mão do direito de explorar a propriedade em favor do município sabendo que seria destinado à construção da Colônia.
Maiores informações sobre os primeiros dias de funcionamento da futura Casa dos Pobres de Maceió podem ser encontradas em entrevista concedida pelo cônego José Guimarães Lobo, do arcebispado alagoano, ao Diário de Pernambuco de 22 de setembro de 1932, quando foi identificado como o religioso “a quem deve Maceió a fundação da ‘Colônia para mendigos’, ali recentemente inaugurada”.
Segundo o entrevistado, a instituição tinha o objetivo de “amparar os necessitados daquela capital, fornecendo-lhes alimento, roupa, agasalho, assistência moral e religiosa”.
Havia a manifesta preocupação com o ócio dos atendidos, que eram incentivados ao trabalho, respeitando as possibilidades físicas e as aptidões de cada um, remediando as suas necessidades imediatas, mas tentando “prevenir a miséria futura pela regeneração do mendigo viciado, porém, válido”.
Essa “regeneração” seria conseguida com a montagem de oficinas de artes para a formação teórico-profissional dos assistidos. As crianças receberiam, além da educação profissional, instrução primária na escola mantida pela Colônia.
Ainda na entrevista, o cônego José Guimarães Lobo revela que não era fácil “afastá-los de sua triste peregrinação. Graças, porém, a atuação do dr. Miguel Batista, chefe de polícia, hoje não se vê mendigos nas ruas de Maceió”.
Naquela data, o Governo do Estado ainda não tinha definido subvenção orçamentária, mas não havia reclamação. “Não nos podemos queixas dos poderes públicos. Ao contrário, somos muito gratos ao sr. Interventor Tasso Tinoco que nos deu, por crédito extraordinário, a quantia de 5:000$000 e, mui espontaneamente se inscreveu no número dos nossos contribuintes mensais, com valiosa importância, o que demonstra a sua boa vontade para com a obra”, explicou o representante do arcebispado.
Esclareceu ainda que a Prefeitura de Maceió também doou 5:000$000 e o Sítio Vergel do Lago onde foi construída a Colônia, “cujo terreno é bastante vasto e próprio para plantação”.
O tratamento dado ao cônego José Guimarães Lobo como fundador da Colônia pelo jornal pernambucano precisou de alguma correção, o que foi apresentada por ele no exemplar do dia 30 de setembro.
O religioso agradece, mas lamenta o equívoco de um dos subtítulos que deu a entender ser ele o único fundador da instituição acolhedora de mendigos. “De fato, sou fundador da Colônia, porém, nisto não estou só. Ela é a resultante da cooperação de revmo. cônego Batista Wanderlei, drs. Antônio Machado, Homero Galvão, Manoel Brandão, Afrânio Jorge, comendador Manoel Viana e minha”.
Nas publicações posteriores o cônego José Guimarães Lobo desaparece das citações, ficando somente o do seu colega Batista Wanderlei. Antônio de Melo Machado presidiu o Conselho administrativo da instituição nos seus primeiros anos.
A Colônia de Mendigos volta a ser notícia no Diário de Pernambuco de 24 de março de 1933, quando ofereceu no dia 20 de março, às 14 horas, um banquete “aos poderes desta capital” com 400 talheres. O orador oficial foi o dr. Armando Wucherer e foram disponibilizados meios de transportes, que eram “encontrados em frente ao Relógio Oficial, podendo as respectivas passagens serem adquiridas no Bar Colombo, no Ponto Chic e na Porta do Sol”.
Em 1933, por proposta do interventor Afonso Carvalho, a Colônia de Mendigos teve a sua denominação alterada para Casa do Pobre e passou a ser uma instituição beneficente. Essa mudança provocou a intervenção da Prefeitura de Maceió, questionando a titularidade sobre a instituição.
Parte dos pavilhões da Casa do Pobre foram utilizados posteriormente pela Escola São Vicente e Escola Catharina Labouré, depois unificadas na Escola Monsenhor Batista, o atual Colégio Arquidiocesano de Maceió Monsenhor Batista. O seu terreno também foi ocupado pela Matriz de N. S. do Perpétuo Socorro, na Rua Humberto Santa Cruz, pela Escola Estadual dom Adelmo Machado e pelo Centro Social Dom Adelmo Machado, estes dois últimos na Rua Marquês de Pombal.
Um relatório da instituição referente a 1938 relaciona a Casa do Pobre como tendo as seguintes instalações:
“— 4 vastos dormitórios bem arejados, acolhendo cada um cerca de 50 pessoas.
— 1 amplo salão de refeições, onde se revezam, em grupos separados, adultos e crianças.
— 1 grupo de pequenas casas destinadas aos que têm famílias.
— 1 pavilhão para o serviço médico dispondo de gabinete para consultório, sala de espera, sala de curativos e uma dependência com ambulatório para casos de emergência.
— 1 pavilhão das ‘Escolas Reunidas”.
— 1 rouparia com máquinas de costura.
— 1 lavanderia com instalação elétrica.
— 1 salão de oficinas.
— 1 capela para serviços religiosos, provida das alfaias exigidas para o culto.
— 1 pavilhão para abrigo de menores com acomodações para 32 crianças, contendo dormitórios, rouparia, enfermaria e salas de oficinas.
— Apartamentos próprios para a administração, residência das Irmãs de Caridade, almoxarifado, cozinha, despensa, instalações sanitárias, etc.”.
Naquele ano foram internadas 333 crianças e atendidas 129 externamente. Teve ainda 250 internados da “velhice desamparada”. Adultos indigentes somaram 486 internados e 591 atendidos externamente. Foram efetuados 45 enterros e distribuídas 10.030 refeições avulsas.
A instituição sofreu alteração nos seus objetivos a partir da década de 1960, quando passou a ser um lar para idosos, principalmente selecionados entre os mais pobres.
Atualmente abriga 55 idosos e segundo o atual arcebispo, dom Antônio Muniz Fernandes, a sua preocupação é manter a Casa dos Pobres, além de adaptá-la para os atuais padrões estabelecidos para o cuidado com pessoas idosas. Segundo o líder religioso, isso só foi possível graças “a uma generosa contribuição de uma senhora mineira, dona Maria Isabel”.
A instituição Casa do Pobre pertence a Arquidiocese de Maceió e sobrevive de doações. Tem o certificado de fim filantrópico concedido pelo Conselho Nacional de Assistência Social e presta atendimento a pessoas carentes.
Matéria original encontra-se no seguinte link - https://www.historiadealagoas.com.br/casa-do-pobre-de-maceio.html

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