“Vim fazer vossa vontade”
Deus visita seu povo
Maria visita a Isabel não somente por uma questão familiar, mas sim
pelo reconhecimento da visita de Deus o seu povo. Zacarias proclama em
alta voz: “Bendito seja o Senhor Deus de Israel que visitou o seu povo e
o libertou” (Lc 1,68). Isabel reconhece em Maria essa visita: “Como
posso merecer que a Mãe do meu Senhor me venha visitar?” (Lc 1,43).
Quando Jesus fazia os milagres o povo reconhecia Nele, por sua ação, uma
visita de Deus. Jesus reconhece, na linguagem da Carta aos Hebreus, que
sua vinda é a realização da vontade salvífica de Deus. A visita de Deus
é para libertação. Isabel diz que Maria é a expressão do acolhimento de
Deus: “Bem aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o
Senhor lhe prometeu” (id. 43). Estando já a caminho do Natal, o salmo
nos convida a contemplar as situações difíceis pelas quais passam o
mundo e o homem criados por Deus. Por isso suplica: “Voltai-vos para
nós, Deus do universo. Olhai dos altos céus e observai. Visitai a vossa
vinha; protegei-a e ao rebento que firmastes” (Sl 79). A celebração
memorial do Natal nos traz o clamor da terra e da gente sofrida, como
também a resposta de Deus dando seu Filho. Ele sempre vem e nasce, não
só em uma lembrança, mas através das atitudes dos que creram. Esses
continuam a visita de Deus quando “visitam,” as necessidades dos pobres
pastores do mundo atual. Que não seja só um gesto natalino. Já é belo. É
bom que essas atitudes sejam permanentes para manter vivo o Natal de
Jesus.
Formastes-me um corpo
Cristo nos redimiu assumindo uma carne semelhante à nossa.
De Maria nasceu o Salvador. Em tudo foi igual a nós, menos no pecado
(Hb 4,15). O corpo do homem e da mulher, feitos pelas mãos do Pai, foi a
habitação do Verbo Eterno que se encarnou. Essa tenda frágil foi
alargada (Is 52,2) para acolher o “mais belo dos filhos dos homens” (Sl
4,43). Participando de nossa natureza, cumpriu por nós a obediência ao
Pai, pois veio para fazer sua vontade... É graças a essa vontade que
somos santificados (Hb 10,8). O sacrifício de Cristo é mais profundo que
o sofrimento de seus ferimentos. Ele atinge sua vontade e todo seu ser.
É nela que obedece e é capaz de nos santificar. O sacrifício da vontade
está unido à sua disposição de se encarnar por desígnio de seu Pai. Uma
evangelização consistente exige tomar a carne do povo, viver sua
situação e partilhar seus sofrimento e esperanças. Quando falta essa
disposição, nossa linguagem não o atinge. Quando carregarmos com ele sua
cruz, aí sim, podemos anunciar. Toda a pastoral que se afasta do homem
sofrido, desvia-se da vontade de Deus, por mais belas que sejam nossas
vestes e nossas palavras.
Cheguemos à gloria da Ressurreição
O mistério de Cristo é único e
se manifesta de muitos modos. Em todas suas manifestações estão
presentes todos os mistérios que se resumem em um, como rezamos: “para
que, conhecendo pelo Anjo a encarnação de vosso Filho, cheguemos, por
sua Paixão e Cruz, à glória da Ressurreição”. É um caminho oracional,
mas é também o caminho do seguimento de Cristo. “Onde Eu estiver aí
estará meu servo” (Jo 12,26). Participamos do mistério de Cristo quando
nos dispomos a fazer a vontade do Pai. Nessa vontade acolhemos a
santificação. No Natal não há só a beleza da Encarnação, mas já possui o
brilho da Ressurreição. Preparemos a festa. A festa do Natal nos ensina
que o Mistério da Encarnação se desabrocha na Ressurreição e
Glorificação. Glória a Deus nas alturas.
Leituras: Miquéias 5,14ª; Salmo 79; Hebreus 10,5-10; Lucas 1,39-45
Ficha nº 1816 - Homilia do 4º Domingo do Advento (23.12.18)
Conversa de comadres
Na casa de José está um agito danado:
Prepara-se uma viagem urgente. Vão para Hebron. É longe. Haja jumento! E
para lá partem, José e Maria. Certamente se unem a alguma caravana. Era
perigoso. Maria vai visitar sua prima Isabel que, já idosa e estéril
estava grávida e no sexto mês.
Normalmente pensamos que era um assunto delas. Preciso ajudar. Vai
dar trabalho. E vão para ficar três meses. Não precisava pressa para
voltar. Ao chegar já explode a alegria, não de comadres que há tempo não
se viam, mas a alegria da salvação. Uma feliz por ter sido tirada da
maldição de ser estéril e não ser mãe e a outra, grávida do Espírito
Santo e traz no seio, nada menos o Filho Eterno do Pai. A coisa era
fina! As duas proclamam as maravilhas de Deus. Maria e Isabel reconhecem
a visita de Deus a seu povo. A visita veio para ficar.
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