O tema desta Campanha é essencialmente ecológico: “Fraternidade: Biomas Brasileiros e Defesa da Vida.” O lema fundamentado na Sagrada Escritura é um mandamento, uma ordem do Criador: “Cultivar e guardar a criação.” (Gn 2,15).
Deus criou o jardim por amor. O homem criou o deserto por ganância. Há
uma rapidez na destruição da natureza e um lentidão na sua
recuperação. Biomas são regiões, um conjunto de vida vegetal, animal,
climática e bacias hidrográficas. Tudo está interligado. No Brasil temos
seis regiões (biomas), saber: a Amazônia, o Cerrado, a Caatinga, a Mata
Atlântica, o Pantanal e o Pampa. Todas as regiões estão sendo
depredadas, saqueadas, destruídas. O homem que devia ser cuidador da
nossa casa comum, tornou-se destruidor. Devia ser um “homem sábio”, mas
devasta tudo, comportando-se como um “homem demente.”
A
Campanha da Fraternidade vem mais uma vez nos alertar, nos advertir,
nos conscientizar do perigo e das consequências maléficas do “pecado
cósmico”. Já ensinava Paulo Apóstolo que “a criação geme e sofre dores
de parto” (Rm 8,22). O Papa Francisco, profeta de nossos tempos,
dirige-se a cada pessoa que habita no Planeta Terra e clama por uma
“conversão ecológica, uma cultura ambiental e uma espiritualidade
defensora da natureza.” A terra transformou-se num “depósito de lixo”,
diz o Papa, e lamenta que muita gente ainda tenha atitude de
indiferença, desinteresse, resignação, diante de tanta destruição.
Ainda
é tempo de salvar a Terra. O ser humano tem capacidade de mudar. Sim é
urgente mudar a mentalidade das pessoas, corrigir o atual estilo de
vida e decidir por um desenvolvimento integral que não seja destruidor,
mas, sustentável.
No
texto-base da CF há uma referência ao rio Paraíba do Sul, no qual foi
pescada a imagem da Mãe Aparecida e que Santo Antonio de Santana Galvão
chamava de rio santo. Nosso rio precisa ser despoluído e revitalizado.
Para isso é preciso saneamento básico.
E
agora, o que fazer? Primeiro, vamos ler e divulgar o texto-base. A
gente aprende muito lendo este livrinho. Ofereça sementes para as
crianças plantar; adquira mudas de árvores e plante-as; não
desperdicemos água, luz e procuremos usar menos o automóvel. Usemos o
transporte público, andemos de bicicleta e a pé. Façamos como muitas
paróquias estão fazendo: mutirão de coleta de lixo e educação ecológica
para o povo. É pecado deixar água estagnada porque vamos morrer picados
pelo mosquito da dengue, zika, chicunguya, febre amarela. Gestos
pequenos trazem grandes resultados. É melhor agir do que lamentar ou
angustiar-se. Somos todos irmãos. Cuidemos da nossa casa comum.
Todo
nosso cuidado com a natureza tem seu fundamento no amor do Criador. Ele
está presente em todo o Universo e na mais pequenina das criaturas.
Deus está num grão de areia. Tudo o que existe é sinal da providência,
da sabedoria, da beleza, do amor de Deus: “o amor move o sol e as demais
estrelas” (Dante A.)
Cuidar
da criação é um ato de amor fraterno e social. Zelemos pela vida
humana, pelas futuras gerações, pela casa de todos. Vamos sim proteger
os ovos de tartaruga que estão sendo destruídos, mas vamos cuidar do
embrião humano, desde a fecundação e cuidar dos pobres. Eis o que
significa “ecologia humana”. No amor ecológico, está o amor a Deus e ao
próximo.
O
Meio Ambiente está cheio de chagas causadas pelo sistema econômico
mundial e os modelos de crescimento. A conversão ecológica consiste em
passar do consumo ao sacrifício, da avidez à generosidade, do
desperdício à partilha. Não estamos sozinhos, somos uma família na
terra.
São
Francisco, padroeiro da ecologia, amou os pobres e deu atenção às
criaturas. Vivia em harmonia com Deus, com o próximo, com a natureza e
consigo mesmo. Mostrou que é inseparável o amor pela criação, a justiça
com os pobres, o amor a Deus, a paz interior e o empenho pela
sociedade. Ou mudamos, ou pereceremos. Vamos mudar, pois o sistema atual
é insustentável. Vida sim, morte não!
Autor: Dom Orlando Brandes
Arcebispo de Aparecida (SP)
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