Capte o espírito da lei, viva no espírito da graça, saiba que não existe dia nem momento em que estejamos proibidos de fazer o bem
Escutamos, às vezes, Jesus falar tanto sobre o
sábado, mas para nós é apenas mais um dia da semana, um dia depois da
sexta-feira, véspera do domingo. É um dia de descanso, mas nem tão
completo, porque alguns precisam trabalhar neste dia.
Se não entrarmos no contexto do que é o sábado ou o
repouso sabático para os judeus, não vamos compreender o que a Palavra
de Deus está nos dizendo.
Quando a Palavra diz que Deus fez o mundo em seis
dias e no sétimo dia descansou, o sétimo dia é justamente o sábado. Para
a lei judaica e para os judeus, o repouso sabático é algo muito sagrado
e, talvez, uma das coisas mais sagradas da religião. Para eles, se Deus
descansou neste dia, nada se pode fazer, é um desrespeito, é violar a
lei divina alguém trabalhar, fazer alguma coisa, até mesmo ajudar quem
precisa neste dia. Para aqueles que observam a lei judaica de uma forma
mais estrita, é uma ofensa fazer qualquer coisa neste dia.
Lembro-me de que, estando em Israel, alguns judeus
mais radicais deixavam os elevadores programados para que, nesse dia,
não se apertasse nem o botão do elevador, porque já seria um trabalho.
Numa outra situação, recordo-me de que, estando num restaurante, o café,
os ovos, tudo foi feito no dia anterior, para que no sábado ninguém
precisasse trabalhar.
Muitos levavam as coisas de forma tão extrema que se
alguém estivesse para morrer, pediam: “Não morra hoje, porque não vai
ter como o enterrar nem socorrer!”. Começaram a criar tantas minúcias, a
observar de forma tão cega, tão estrita a Lei de Deus, que viraram
escravos dela e não a colocaram a serviço da vida.
Aquilo que os judeus começaram a viver em relação ao
sábado, muitas vezes começamos a viver em relação a tantos preceitos
divinos. As Leis de Deus não são para nos escravizar, mas para nos dar a
vida!
Sabe, meus irmãos, não existe lei maior que o amor e a misericórdia.
Não existe mandamento maior do que cuidar do próximo e atender suas
necessidades. Isso não significa que temos de relaxar e viver as Leis do
Senhor de qualquer jeito. Pense: você está indo à Missa e, na hora de
sair, alguém passa mal. “E agora? O que faço?” Socorra a pessoa que está
passando mal, sua missão será maior que qualquer Missa. “Ah, mas é o
sacrifício de Jesus!”. Então, viva o sacrifício de Jesus sacrificando
sua vida em favor do outro.
Isso não quer dizer que você vá à Missa só quando
der. Não seja também hipócrita! Seja autêntico, capte o espírito da lei,
viva no espírito da graça, saiba que não existe dia, não existe momento
em que estejamos proibidos de fazer o bem. Não podemos ser como o
sacerdote, aquele levita de outrora que passou pelo homem caído e foi
embora, porque tinha muitas obrigações religiosas e não pôde cuidar
daquele homem.
A nossa religião não pode virar religião da hipocrisia! Existem
muitas pessoas prostradas, necessitadas de nós, e nos sentimos o
“máximo”, porque rezamos o terço todos os dias, porque vamos à Missa
todo domingo, porque o Espírito Santo está em nós, e não temos tempo
para olhar os caídos e miseráveis deste mundo.
Não sejamos cegos por causa da Lei, mas deixemos que ela nos permita viver no espírito da graça e da misericórdia!
Deus abençoe você!
Padre Roger Araújo
Sacerdote da Comunidade Canção Nova, jornalista e colaborador do Portal Canção Nova.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.